quinta-feira, 1 de março de 2012

Como começamos a nos interessar por ler?


Ao visitar a exposição de sessenta anos da teledramaturgia, comecei percorrendo a história da TV brasileira de uma maneira curiosa e, ao mesmo tempo, comecei brincando com minhas amigas que eu não lembrava de nada daquilo, pois sou muito "jovenzinha".

Entre muitos risos, comecei, interiormente, tentando lembrar-me qual foi a primeira novela que assisti. Nesta volta ao passado, fiquei triste e chocada. Triste porque todo aquele sentimento aparentemente esquecido na infância pareceu renascer e chocada com a riqueza de detalhes que ressuscitaram em minha mente e coração.

Lembrei-me com saudade da primeira novela que acompanhei interessada: As Pupilas do Sr Reitor. Meus pais, portugueses, acompanhavam a novela pois sentiam-se mais próximos das origens dele e eu acompanhando-os comecei a me interessar pelo enredo.Recordo-me de fazer muitas perguntas sobre os atores, os personagens e a forma como funcionava uma novela.Da novela mesmo, só me lembro da personagem Margarida ou Guida e que ela era uma moça muito doce. Porém, lembro-me com desespero do final da novela pois chorei muito..na verdade até demais na opinião da minha mãe.

Hoje, relembrando esse dia, comecei a refletir no que Goleman fala sobre  emoções em seu livro Inteligência Emocional. Na opinião dele, primeiramente temos que atribuir valor ao sentimento. Ao reconhecer e nomear o que sentimos estamos no caminho do auto-conhecimento e somos capazes de fazer escolhas sábias. Segundo o mencionado autor, devemos evitar dizer para uma criança que aquilo que ela está sentindo não é nada. Como não é nada???Ela está sofrendo de verdade e precisa entender o que está sentindo e ser consolada. Quando a novela acabou, senti a dor da perda. Eu chorava e pensava;”Como vou viver sem assistir a novela todos os dias? O que vai ser de mim?” Eu estava realmente sofrendo pois os personagens passaram a fazer parte da minha vida e da minha rotina, sem mencionar que a novela era um elo com meus pais, sua história e seus pensamentos.

Lembro também, que na estante de casa havia vários livros e As Pupilas do Sr Reitor era um deles. Eu andava com ele para todo lado. Ninguém queria ler o livro para mim pois diziam que não era para minha idade.Não compreendiam que eu havia encontrado um meio de continuar vivendo aquela aventura.

Quando comecei a aprender a ler, meu objetivo era ler aquele livro que carregava  já havia algum tempo comigo.Ninguém acreditava que eu leria o livro  mas, eu já era uma pessoa determinada e, com sete anos, já estava lendo  aquele livro de capa amarela e contando para todos o que eu lia. Ninguém acreditava que tão pequena ( nunca fui muito alta ..rs) lia literatura. E dali, não parei mais, li todos os livros da estante. Assim, nasceu uma leitora tão ávida que foi fazer Letras para estudar Literatura Portuguesa e durante dois anos foi monitora dessa disciplina. Minha professora, sabendo da minha paixão pelo mencionado livro, todo ano me pedia para dar as aulas sobre o livro enquanto ela cumpria funções burocráticas. E eu amava!!!

Voltando às novelas, houve um tempo que as novelas das seis eram sempre baseadas em livros clássicos e, claro, li todos. Acompanhava as novelas, comparava com os livros e, em meus devaneios de adolescente, vivia todas aquelas aventuras, inclusive concedendo-me o direito de concordar ou discordar das mudanças feitas.Interessei-me por Monteiro Lobato por causa da TV sem mencionar A Sucessora, Maria Dusá e tantas outras..virei uma noveleira de carteirinha mesmo.

Por tudo isso, eu tinha que ir à exposição mesmo. Eu não tinha ideia que aquele convite me levaria  a  uma viagem tão gostosa à minha infância e aos meus sentimentos. Descobri que, com a mesma intensidade que um adolescente sofre por amor ou um adulto sofre por perder um ente querido ou uma promoção, assim também, a criança sofre e precisa ser ouvida.

Fica a dica, visite a exposição e viaje no tempo e nas emoções.




2 comentários:

  1. Deise Cristina :Nossa...Anna...desde de os 5 anos eu leio tudo o que vier...então não lembro....mas o melhor de tudo é que fui exemplo para minha filha...na minha cristaleira não tem copo...tem livros......de vez em quando eu e a Carol visitamos Sebos e ficamos namorando livros....é muito bom.

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    1. Lembro com doçura dos livros, filmes e novelas que assisti com minha mãe!

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