terça-feira, 30 de outubro de 2012

Pedras, adjetivos e solidariedade


Sísifo, na mitologia grega, foi condenado  a rolar uma pedra enorme e pesada até o topo de uma montanha, porém, uma vez levada ao topo, a pedra rolava montanha abaixo, tornando vão todo o esforço de Sísifo que era obrigado a recomeçar sua empreitada novamente.
Lembro-me deste mito,a toda vez que me  perguntam como consigo ensinar a mesma matéria dia após dia sem me cansar. Nesses momentos, fico imaginando se a pessoa vê os professores  como Sísifo que todo dia leva a pedra ao topo e recomeça a tarefa novamente pela manhã exatamente da mesma maneira.
Na verdade, rotina é algo que não existe em nossa profissão pois cada grupo é totalmente diferente do outro em seus gostos, dificuldades e visão frente à vida.
Hoje, por exemplo, eu teria que ensinar adjetivos e, ao preparar minha aula, busquei uma maneira diferente de trabalhar o vocabulário e, ao mesmo tempo, passar a noção de valores e solidariedade.
Após ter trabalhado o vocabulário da forma apresentada pelo livro, acessei na internet o blog WORD ROCKS ( http://www.wordrocks.net/ ) e juntamente com os alunos exploramos o  projeto e os objetivos desta divertida,  porém séria proposta. Este projeto lançado na Califórnia objetiva distribuir pedras com inscrições positivas aleatoriamente pelos lugares onde passamos. Espera-se que a pedra certa, com a mensagem certa chegue às mãos da pessoa certa na hora mais apropriada. Funciona como uma mensagem na garrafa.
Propus aos meus alunos que fizéssemos parte deste projeto. Meus adolescentes reagiram com um muxoxo tipo “Aula de Artes agora??”  “Pintar pedras??”Entretanto, num segundo começaram a ficar tão entusiasmados com o projeto que pediram se poderiam pintar mais pedras. A classe ficou alegre e num clima de harmonia delicioso.
Terminada a aula, eles  saíram tão entusiasmados que dois deles deixaram na sala de aula os bens mais preciosos para um adolescente: I-pads e I phones. Quando um adolescente chega a esquecer seus pertences mais valiosos é porque foi realmente encantado.
Senti-me vitoriosa, pois ensinei os adjetivos e ainda trabalhei a importância da solidariedade.  Cada um de nós pode fazer algo para melhorar o mundo  e não deveríamos fugir desta responsabilidade social.
Como vocês podem ver, um dia é sempre diferente do outro. Meus alunos vieram aprender inglês, tiveram uma aula relaxante de artes  e  tornaram-se conscientes sobre como um simples ato pode mudar uma vida. Definitivamente, faço muito mais que subir com uma rocha pesada todos os dias para deixá-la descer novamente no final do dia! Temos a liberdade de escolha, por isso podemos cuidar dos afazeres cotidianos sendo criativos mesmo na monotonia. 

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Medicamento para desobediência?


Recentemente, o jornal A Tribuna, publicou uma matéria – alerta sobre o excesso de uso de Ritalina. O artigo mencionado intitula o medicamento como “A droga da obediência”. Sem dúvida alguma, algumas crianças e adolescentes são efetivamente beneficiados pelo uso do citado medicamento pois ele atua propiciando um aumento na concentração para os que sofrem de TDAH. Porém  apesar da eficiência comprovada, cada caso precisa ser observado com cuidado.
 Certa vez, Içami Tiba, explicou durante uma palestra que, antigamente, na hora das refeições, os pais comiam o peito do frango e os filhos alimentavam-se com o restante. Os pais da geração posterior  inverteram essa ordem resultando em filhos que comem o peito de frango sem se dar conta do grande privilégio concedido por seus pais que permanecem com a carcaça e as asas desde a infância. Este processo, ainda segundo o psicólogo acima mencionado, educou uma geração que, além de não valorizar o que recebe, ainda é avesso a regras e limites em geral. Além disso, formou-se uma geração sem parâmetros para educar.
Numa abordagem semelhante, a psicanalista e escritora Márcia Neder expõe, em seu livro Déspotas Mirins, esta inversão de valores em que a criança tomou para si a autoridade dos pais e estes estão como reféns sem saber como sair dessa situação.
Em suma, a prescrição do medicamento parece ser um paliativo para um problema muito sério que  é a falta de educação e respeito ao próximo e, consequente, dificuldade em lidar com frustrações.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Concentração - Parte 2


Por que é tão difícil manter a concentração? Será em virtude da tecnologia?
Segundo o psicólogo Gary Marcus da Universidade de Nova York, “para nosso ancestrais, o tipo de memória  que queremos ter agora, não era necessária.” Nosso cérebro foi moldado e treinado para ver tudo o que está a sua volta analisando os perigos em geral e não um ponto estático. Somente neste momento de nossa evolução, temos o conforto de não precisar mais dessa capacidade de visualização geral e de busca de recompensas imediatas. Porém, após milhares de anos sobrevivendo com a programação reptiliana, torna-se difícil mudá-la sem esforço.
Somos capazes de  acionar nosso neocórtex para cumprir tarefas como focar na leitura de um livro ou tomar  uma decisão a longo prazo; entretanto, precisamos lutar contra a parte mais primitiva do nosso ser. Por exemplo, algumas vezes, embora a educação alimentar nos ensine a fugir das frituras, a necessidade de buscar prazer rapidamente e saciar este desejo impera e ingerimos o chocolate ou a fritura. Da mesma forma, o que é mais atraente e prazeroso: sapear pelas redes sociais em busca da novidade ou estudar para a prova?
Fazer a escolha mais apropriada e racional exige uma luta contra nosso instinto primordial e, também, muito treino.
Por isso, recomendo aos pais e professores que ajudem seus filhos nesta tarefa de seleção e resistência aos instintos. Há hora para tudo e cabe aos pais determinar esses limites. Seguindo a mesma teoria da história da humanidade, não é por acaso   que o ser humano é o animal que continua dependente de seus pais por mais tempo. As crianças e adolescentes precisam dos pais por perto delimitando, instruindo e premiando. Mãos à obra.


Um oferecimento:








sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Concentração - Parte 1


Televisão, Facebook, Twitter, Mensagens de texto, vídeo games: tudo isso é muito mais interessante que estudar ou ler um livro. Porém, nem tudo está perdido, segundo psicólogos e neurocientistas, é possível desenvolver a concentração.
Segundo especialistas em meditação, nosso cérebro normalmente  mantêm-se em uma frequência muito alta para lidar com toda a gama de informações recebidas, então o primeiro passo é baixar esse fluxo de pensamentos. Há várias técnicas de meditação, mas o mais simples e fácil de fazer é prestar atenção na respiração de modo a esvaziar o cérebro.
A habilidade de se concentrar varia de pessoa para pessoa, mas, assim como habilidades podem ser treinadas, melhoradas ou ampliadas, da mesma forma, a concentração pode ser trabalhada.
Outro fator que afeta diretamente a atenção é a emoção. A neurociência afirma que é um processo de escolha do que é importante, uma vez que, embora  o lobo frontal seja responsável pelo comportamento e pela tomada de decisões, todo o sistema sensorial está envolvido, segundo Ivan Hideyo Okamoto, da Universidade Federal de São Paulo. Nosso sistema límbico, que comanda as emoções, sempre favorece os elementos que despertam sensações intensas.
Parece impossível vencer esta habilidade nata para a desconcentração?
Nem tanto, segundo David Schlesinger, neurocientista do hospital Albert Einstein, a plasticidade do cérebro, ou melhor, dizendo, a capacidade dos neurônios de se redistribuir de acordo com a necessidade e o treino, pode ser trabalhada da mesma forma que exercitamos os músculos tornando-os mais fortes.
Portanto, treine a concentração diariamente quando estiver fazendo tarefas de que não gosta e respire mais calmamente, prestando atenção ao movimento de saída e entrada do ar. É como ir para a academia todo dia, é mais difícil no começo, mas depois começa a fazer parte do nosso dia-a-dia.

Um oferecimento especial de;

           

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Cenouras



Hora do almoço, todos na mesa, digo para meu filho: - Come cenoura. É bom para os olhos! Imediatamente, ele retruca: - MITO!
            Tomei consciência que mais uma vez repeti a frase tantas vezes ouvida na infância. Assim, todos nós, vez ou outra, repetimos expressões ou atitudes simplesmente por terem sido vivenciadas exaustivamente num processo de programação contínua. Esta programação é tão eficaz  que sequer a questionamos.
Hoje, por exemplo,num laboratório de análises clínicas, ouvi uma mãe dizendo para o filho que o exame de sangue não doeria nada. Certamente, ela ouviu esta frase incontáveis vezes durante a infância e a repetiu impensadamente , mas automaticamente.Entretanto, não é aconselhável mentir para as crianças com falsas promessas ou premissas.
            A inverdade leva à quebra da confiança. Melhor, dizer a verdade, afirmando que de fato doerá um pouco, mas passará logo. Ajuda bastante, ver os pais fazendo exames ou tomando vacinas e,também, é importante explicar o porquê desses procedimentos.
Como podemos observar, somos programados na infância pelo que ouvimos, então precisamos estar em constante estado de alerta para programar nossos filhos de maneira apropriada, pois estas marcas ficarão no inconsciente para sempre.
E as cenouras? Mito ou verdade? Bem,pelo sim, pelo não, COMA-AS!


sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Carta para uma filha





Filhinha,
Antes de você ir morar sozinha, preciso revelar alguns segredos. Espero que o susto dessas revelações não te deixe num estado catatônico e impossibilitada de continuar seus projetos.
Bem, lá vou eu, respirei profundamente para encher-me de coragem e revelo que:
  1. a comida não se prolifera no armário. Você tem que se deslocar ao supermercado e comprar.
  2. As compras não voam das sacolas para as prateleiras. Você terá que retirar das sacolas e guardar no armário,
  3. As refeições não se materializam na mesa. Faça-as.
  4. Agora, o mais incrível de tudo: as toalhas não voltam caminhando para o banheiro. E,  mais surpreendente ainda, as roupas não retornam limpas e passadas para as gavetas e armários. Você terá que se dignar a recolhê-las e providenciar a lavagem.
  5. Os copos, pratos e talheres permanecem sujos na pia mesmo após terem saído do armário e permanecerem na pia por vários dias.
  6. E, agora, a pior de todas as revelações – uma verdadeira Epifania – meia-calça também precisa ser lavada.   
Bem, espero que o terror dessas verdades não te traumatize. Como você é uma pessoa alfabetizada, culta e escoteira, acho que será capaz de superar a decepção, causada pelo fim desses mistérios. Seja forte especialmente quando perceber que os meus sapatos, bolsas, roupas e acessórios em geral não estão no quarto ao lado. Ah, e também, não adiantará ligar com  o famoso “Quer vir me buscar?”
Perdoe-me se te protegi demais e escondi esta dura realidade de você, mas seja bem-vinda ao mundo dos adultos!
PS Mães também precisam de colo, às vezes!
Anna

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Mais ou menos


Certa vez assisti uma palestra com o Dr. Roberto Shinyashiki e ele afirmou que seria bom para nossa saúde e nosso bem-estar se toda noite ao deitar tivéssemos a certeza que Deus nos abençoaria e diria “Obrigada, meu filho. Você está fazendo um ótimo trabalho.”A certeza da missão bem cumprida propicia uma boa noite de sono e uma vida mais feliz".
Enquanto escrevo este texto, voltam à minha memória umas palavras que os lobinhos – ramo escoteiro- sempre repetem: MELHOR MELHOR MELHOR. Por que esta busca pelo melhor?
Concordo com o Dr Roberto, não há nada mais compensador que a satisfação que advém de ter cumprido uma missão. Por isso, faço um alerta para os professores e líderes: ”Não  se deixem contaminar pela política do mais ou menos.”
Saber o conteúdo é pré-requisito necessário para quem  se propõe a ensinar, todavia, faz-se necessário ir mais além: ter em mente os objetivos a longo e curto prazo e planejar cada aula buscando atingi-los. Dá trabalho? Toma tempo? Sim e muito, mas é o ônus da profissão escolhida. Nada mais reconfortante que terminar uma aula com a convicção de ter acrescentado algo à vida daquelas pessoas.
Existe uma frase circulando na internet que  preconiza que ninguém deve sair do nosso lado sem ter aprendido algo novo. Imagine, então, se esta pessoa for um professor. Acho que a responsabilidade é dobrada.
Como facilitador da aprendizagem, é preciso, antes da aula, parar e refletir para escolher a melhor técnica de ajudar o aluno a trilhar este caminho. Não basta passar o conteúdo exigido pelo MEC, há experiências de vida a compartilhar.
Uma aula bem preparada evita a indisciplina, é  motivadora e propulsora de novas ideias. Certo dia, um colega perguntou para seus alunos se eles não estavam cansados de entregar redações medíocres. Assim, também proponho: Vamos sair dessas aulas mais ou menos. Chega de mais ou menos na hora, mais ou menos vestido, mais ou menos cumprido, mais ou menos ensinado ou mais ou menos vivido. Respeite o seu tempo e o do seu aluno. Faça a sua parte, chega da política do mais ou menos!




sexta-feira, 5 de outubro de 2012

EAD - educação à distância


Super na moda e aparentemente a solução para quem não tem tempo disponível, Educação à Distância ou, simplesmente, EAD tem sido a escolha para muitos profissionais que buscam o aprimoramento. Porém, a dúvida paira no ar: este tipo de ensino funciona mesmo?
Há seis anos atrás, matriculei-me numa pós  semipresencial pelos motivos que a maioria das pessoas faz esta escolha:Tempo. Eu tinha dois filhos pequenos, trabalhava muito, mas sonhava com esta pós há muito tempo. Porém, esse esquema de passar o sábado todo na universidade ou frequentá-la duas noites estava fora de cogitação em virtude da tenra idade de meus filhos. Minha escolha foi acertada, pois  eu tinha aulas uma vez por mês aos sábados e tinha uma colega de turma em quem podia realmente confiar. Foi uma ótima experiência e percebi que muitos desistiram pelo meio do caminho ao descobrir que  não existe mágica. O segredo está em sentar e dedicar várias horas semanais ao estudos. Há muito o que ler, redigir e pesquisar, mas é para isso que você se propõe a fazer uma pós, não é?
Acredito no sistema EAD, pois além de economizar o tempo de percurso até a faculdade, há a vantagem da flexibilidade de horário e o valor do investimento é bem mais acessível. Com esta experiência positiva, resolvi iniciar outra pós, mas, desta vez, só digital. Toda a plataforma é via internet, inclusive   as avaliações e a entrega do artigo científico.
Algumas pessoas questionam o tipo de profissional formado nesta modalidade, porém eu questiono se estar matriculado num curso presencial assegura a presença e a qualidade do ensino.
Acredito que  nada substitui a experiência da vida no campus em termos de aprendizado e, mesmo no quesito sociabilização, por isso não aconselho para aqueles que nunca fizeram uma faculdade e ainda são jovens; todavia, para os mais velhos ou para quem busca um segundo curso, é uma opção que deve ser considerada.
Como já disse anteriormente, não há passe de mágica. O sucesso nesse tipo de curso exige disciplina e curiosidade. A pessoa tem que ser metódica e organizada para cumprir prazos e traçar metas, caso contrário, não conseguirá cumprir os prazos. Antes de matricular-se, avalie sua rotina diária e estime se realmente terá tempo para dedicar-se a esta empreitada.Outro ponto  crucial é conhecer o seu estilo de aprendizado e elaborar um planejamento para os estudos.Acredito que a pessoa curiosa e com vontade de aprender, sempre encontra meios de atingir seus objetivos, não esmoreça.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Meu filho cresceu.E agora?


Quando meu filho era criança, ele ganhou dos padrinhos um boneco do Incrível Hulk que aumentava consideravelmente de tamanho quando imerso por muito tempo em água. Pois pasmem, algum processo biológico/químico aconteceu e o meu filho cresceu enquanto fazia aula de surf. Deve ter sido efeito da água salgada..só pode!!! Deixei-o como sempre faço sob a supervisão da Escola de Surf  e fui caminhar pela orla da praia. Ao retornar, duas horas depois, vejo, ainda há certa distância que os alunos encontravam-se em uma roda ouvindo as explicações e comentários do professor, entretanto fui tomada por um profundo  choque, ao verificar que meu filho era um HOMEM. Ainda, naquele estado de descrença, perguntei a uma amiga se aquele homem de lycra verde e bermuda preta com verde era meu filho e, ela, rindo, respondeu-me afirmativamente. Parei ainda embasbacada e fiquei observando aquele homem vindo em minha direção e pensei:”Meu Deus! Como ele cresceu em duas horas?”
Assim, acontece, um dia minha filha estava no meu colo, no outro já usava meus sapatos, planejava a festa de quinze anos e escolhia a profissão que iria seguir.
Ainda estou na dúvida entre  processar os responsáveis pela escola por deixarem meu filho sofrer esse processo químico de transformação,   reclamar com Deus por permitir que o tempo passe tão rápido ou chorar..rs..
Hoje, novamente saindo da praia com ele e mais alguns amigos, recordamos da época em que todos brincávamos na areia fofa com baldinhos e pazinhas.
As horas voam e com elas as crianças crescem – nem vou dizer que envelhecemos, prefiro pular esta parte e abster-me deste tipo de comentário... rs- porém, restam-nos as boas lembranças e histórias para contar.
O importante é viver e aproveitar os momentos ao lado dos filhos enquanto podemos, para depois, com alegria e orgulho, deixá-los partir confiantes pois tiveram uma boa base. Boa viagem, meus filhos!